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Brest - La Coruña - Muros - Póvoa de Varzim

Setembro de 2022

Data: 01 a 09 de Setembro de 2022
Distancia: 540 milhas / 1000 Km

Fiz esta viagem como tripulante de um veleiro de bandeira sueca, o Salt, um Dufour 520 que estava a caminho de Las Palmas para participar na ARC Atlantic Rally. 

Tinha iniciado a viagem em Estocolmo e juntei-me à tripulação em Brest para ajudar na viagem até à Póvoa de Varzim onde ficará até princípios de Novembro.

O golfo da Biscaia é conhecido pelas suas grandes tempestades e é necessário ter uma extrema atenção à meteorologia. Isso obriga a uma grande flexibilidade em termos de tempo já que só se deve navegar com uma boa janela de tempo e podemos ficar vários dias à espera, ou, ter de iniciar a viagem mais cedo do que o previsto. 

O barco é um Dufour 520 Grand Large de 2020 com 15,20 metros de comprimento (52 pés) muito, muito bem equipado e que anda muito bem à popa e ao largo.

O plano original era Brest – Bayona – Póvoa do Varzim mas após 22 dias de excelente tempo no Báltico e no Canal da Mancha e como a sorte não dura para sempre, o resto da viagem seria feita com um olho nas previsões e outro nas orcas, já que tinha havido vários ataques nos dias anteriores e perto da nossa rota prevista.

Estando a nossa saída prevista para o dia 2, tivemos de antecipar para o dia 1, já que no dia 3 à tarde, chegava uma tempestade à Galiza, pelo que, ou entrávamos num porto antes dela chegar ou as coisas podiam complicar-se.

A escolha recaiu no porto de La Coruna mas tendo como porto alternativo, o porto de Viveiros, que estando do outro lado do Cabo Ortegal, estaria mais protegido e sempre seriam menos 30 milhas (4 horas).

Saímos de Brest pelas 9:50 mas devido à falta de vento, fomos a motor até quase ao anoitecer.

Umas horas depois de sairmos, começamos a perder velocidade e após uma inspeção, descobrimos que tínhamos o leme cheio de sargaços. A maioria saiu com o croque, mas o Stephen acabou por ter de mergulhar e tirar o resto.

Quem estava a acompanhar a viagem no Garmin e viu o barco a andar para trás, pensou que tinhas sido atacados pelas orcas e estávamos com o motor à ré ou sem leme.

Ao final da tarde, entrou vento que foi aumentando até estabilizar entre os 15 e 20 nós e pudemos continuar à vela. E se este barco anda nestas condições. Foi sempre acima dos 8 nós e a voar baixinho. As ondas começaram a aumentar e fizemos a noite na máquina de lavar habitual quando as ondas entram pela alheta. Para ajudar, sob forte chuva ao ponto do bimini parecer uma cascata.

Na manhã do seguinte, mandei uma mensagem pelo Garmin para um dos meus marinheiros de terra (alguém que vai olhando para a meteorologia e vai informando e enviando nova rota ou dado não termos maneira de receber os Grib files com as previsões) e perguntei:

– Tenho uma ETA de chegada à La Coruna pelas 08:00. Estará bom ou é melhor ir para Viveiros?
A resposta veio rápida:
– Corunha até às 1300 OK. Vento Sw 16kt ondas 1.5 m período 5.2s. Meio da tarde piora bastante.

Durante o segundo dia, as condições foram deteriorando-se, mas nada de preocupante até porque 15 metros de barco, aguentam muita coisa. O vento foi rodando para a esquerda (NW para SW o que é sempre um indicador claro que temos mau tempo a caminho e ao princípio da tarde, a pressão barométrica caiu 5mb em 4 horas. Não existe melhor sinal de tempestade que uma descida destas.

Entrámos na marina às 8:20 (sábado) e tendo acesso internet, foi actualizar as previsões e rapidamente se percebeu que íamos ficar ali uns dias.

Na verdade, só sairíamos na quinta-feira porque com crianças a bordo (ou mesmo sem elas) não nos íamos meter ao mar com vagas confusas de 2 a 3 metros de proa e rajadas de 25 nós.

Até porque, estes barcos modernos, com este desenho de casco, comportam-se muito mal com vaga de proa. Vai constantemente a bater na vaga seguinte e é extremamente desconfortável.

Foram 5 dias a experimentar aquelas tascas galegas e à confiança, até dormi no exterior do barco para o caso de ficar “mareado”.

Ao fim de quase uma semana a testar tascas e petiscos, vamos seguir finalmente viagem.

Devido aos possíveis ataques das orcas, vamos navegar apenas de dia, porque de noite será quase impossível defendermo-nos e ficar à deriva às escuras, não é algo que desejemos.

O planeamento aponta para uma para em Muros (onde houve um ataque 3 dias antes) para no dia seguinte, chegaremos finalmente à Póvoa onde o barco ficará até Novembro.

As orcas são a grande questão e para isso, manteremos todos os 4 no deck durante a viagem para termos sempre 1 ao leme (piloto automático avariado), 1 em stand-by e 2 a manter vigilância. Vamos atravessar uma das zonas com mais ataques e é um jogo de probabilidades

Como defesa contra os ataques delas, temos 3 soluções:

  • 2 Pingers nos quais não tenho muita confiança que realmente funcionem. Mas se os temos cá, porque não?
  • Meter o barco à ré logo que as avistemos caso o estado do mar o permita. Estão previstas ondas até 2 metros com um período de 9 segundos, por isso, logo se vê.
  • Fazer barulho, muito barulho mesmo que para isso tenhamos de usar umas ajudas que produzem imensos decibéis.

Se o pior acontecer e tiver de ir para terra, criei um mapa com todas as marinas e portos de abrigo ao longo da costa da Galiza.

Presumo que isto seja o mais parecido com os tempos em que quem ia para o mar, estava sempre com receio de piratas.

No dia seguinte, saímos ainda de noite e fomos brindados com um nascer do sol maravilhoso.

Este dia, à semelhança do anterior, foi feito inteiramente a motor devido à falta de vento, devido a estarmos a navegar entre a passagem de 2  frentes de baixas pressões.

Não é agradável para quem gosta de vela,  mas quando ele chegasse, seria muito forte e as barras estariam fechadas ou condicionadas.

O receeio de um ataque das orcas manteve-nos sempre muito alerta até pelas noticias que iamos recebendo mas acabámos por chegar sem sermos atacados.

Éntrámos já de noite com a ajuda do marinheiro de serviço que é realemente muito bom e deu uma preciosa ajuda na entrada. Se tiverem de lá entrar, chamem-no no canal 9 e sigam as suas instruções.

É uma barra complicada e se estiver condicionada devido ao mau tempo, só se pode entrar nas 2 horas antes da maré cheia e nas 2 horas depois da maré cheia. Entrámos 2 horas depois da maré baixa e com 2,40m de calado, a sonda chegou a marcar 40cm abaixo do patilhão.